Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa é o título roubado clandestinamente a um texto do livro “Novas Cartas Portuguesas”, e que dá o mote para este espectáculo. 

Partimos da criação do primeiro Sindicato do Serviço Doméstico em Portugal para contar a história, ainda pouco conhecida, pouco contada, pouco reconhecida, pouco valorizada, do trabalho das mulheres, do seu poder de organização, reivindicação e mudança. 

É a história das mulheres que limpam o mundo, das mulheres que cuidam do mundo, das mulheres que produzem, educam e preparam a força de trabalho.

Esta é a história do trabalho invisível que põe o mundo a mexer.





Digressão 2024

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Digressão 2024 〰️

  • 25 de janeiro
    Fórum da Maia


  • 2 e 3 de fevereiro
    Auditório de Espinho


  • 8 e 9 de fevereiro
    Cineteatro Constantino Nery, Matosinhos (Festival Aurora)


  • 24 de março
    Casa da Criatividade - São João da Madeira


  • 27 de março
    Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal


  • 27 de abril
    Theatre Benno Besson - Yverdon-les-Bains, Suíça


Espetáculo já apresentado em:

  • Centro Cultural de Belém, Lisboa - [ESTREIA] de 4 a 7 de novembro

    CineTeatro Louletano, Loulé - de 12 e 13 de novembro

    Teatro do Noroeste - CDV / Festival de Teatro de Viana, Viana do Castelo - 18 de novembro

    Teatro Sá da Bandeira, Santarém - 20 de novembro

    FIS - Festival Internacional de Solos / Cine-teatro Garrett, Póvoa de Varzim - 28 de novembro

    Teatro Académico Gil Vicente, Coimbra - 1 e 2 de dezembro

    Centro Cultural Vila Flor / A Oficina, Guimarães - 10 e 11 de dezembro

    Teatro Viriato, Viseu - 17 e 18 de dezembro

  • Laboratório das Artes Teatro Vista Alegre / 23 Milhas, Ílhavo - 28 a 30 de janeiro

    Teatro Municipal Baltazar Dias, Funchal - 11 e 12 de fevereiro

    Auditório Municipal António Silva / teatromosca, Agualva-Cacém - 26 de fevereiro

    Teatro Carlos Alberto /TNSJ, Porto - 2 a 6 de março

    Centro Cultural Paredes de Coura, Paredes de Coura - 12 de março de

    Casa das Artes de Famalicão, Famalicão - 26 e 27 de março

    Teatro Municipal de Vila Real, Vila Real - 1 de abril

    Teatro Municipal Joaquim Benite, Almada - 9 e 10 de abril

    Teatro Municipal da Covilhã, Covilhã - 7 de maio

    Teatro-Cine de Torres Vedras, Torres Vedras - 20 de maio

    Festival das Marias / Pax Júlia, Beja - 21 de outubro

    Teatro Municipal de Ourém, Ourém, - 5 de novembro

  • Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo, Açores - 4 de fevereiro

    arquipélago - centro de artes contemporâneas, Ribeira Grande, Açores - 12 de fevereiro

    Fábrica das Ideias - 23 milhas, Gafanha da Nazaré - 11 de março

    Centro de Artes de Ovar, Ovar - 18 de março

    Theatro Circo - Festival MUSA, Braga - 10 de maio

    Casa da Cultura - Teatro Stephens, Marinha Grande - 12 de junho

    Teatro-Cine de Pombal, Pombal - 1 de julho

    Centro Cultural Gonçalves Sapinho, Benedita, Alcobaça - 7 de outubro

    FITUU (Festival Internacional de Teatro Unipersonal del Uruguay) - Sala Hugo Balzo, Montevideo - 25 de outubro

    Festival Mindelact - Centro Cultural do Mindelo, Cabo Verde - 10 de novembro

    Teatro Miguel Franco, Leiria - 25 de novembro

Quase como se fossem da família 

“Quase-como-se-fossem-da-família”, poderia ser um epíteto para as empregadas domésticas, caso a sua função não fosse também invisível nas grandes epopeias clássicas. Esta descrição surge, normalmente, de imediato quando se diz que se tem uma empregada doméstica, como que para justificar ou atenuar aquela contratação. A insistência na linguagem dos afectos ajuda a não nos vermos como patrões, a não aceitar que a nossa casa constitui um posto de trabalho, e a não assumir que pagamos a alguém para limpar a nossa casa e fazer tudo o mais que for necessário. 

A questão que aqui se levanta é polémica: por que precisamos de empregadas domésticas? Tentar respondê-la é colocar o dedo na ferida do estado social e na forma como nos organizamos enquanto sociedade. É abrir a caixa de Pandora, se quisermos continuar as referências mitológicas, ou não se chamasse esta estrutura de criação artística, Cassandra. 

A história é feita por quem a faz, mas sobretudo por quem a escreve. É frequente passarem-nos pelas mãos livros com a frase: “e foi neste momento que as mulheres começaram a trabalhar”, quando se conta a história da Revolução Industrial, ou das Grandes Guerras. Fica no ar a curiosidade sobre o que faziam então mulheres até a essa altura. Estariam deitadas todo o dia numa cama de rede, a beber sumos de ananás feitos automaticamente pela liquidificadora, que lhes eram entregues por gatos amestrados para o efeito, e cujos copos se evaporam automaticamente no fim, sem necessidade de serem lavados? Será que antes desse dia em que “a mulher começou a trabalhar”, as crianças nasciam de ovos de dinossauro, e eram educadas por lobos nas florestas? Não teriam as camas lençóis que precisassem ser trocados e nem as casas ganhavam pó? Talvez até a essa altura ninguém adoecesse, nem pais, nem filhos, nem família, e por isso, não era necessário ninguém que fizesse canja, que mudasse fraldas, que comprasse medicamentos na farmácia e que se lembrasse das horas a que devem ser tomados. É estranho, porque não há vestígio que o mundo tenha sido alguma vez assim. Só muito recentemente se inventaram aspiradores automáticos, mas continua a ser necessário alguém que se lembre de o pôr a carregar, de o esvaziar e de o ligar na divisão certa da casa. 

Se existimos, do ponto de vista biológico ao social, é porque cuidamos ou alguém cuidou de nós. E desde que, no contexto europeu, nos organizamos em sociedade, que esse alguém calha de ser, prescrita estruturalmente, mulher.

Pagando a alguém para o fazer, ou fazendo-o nós na nossa casa de forma gratuita quando chegamos depois de uma jornada de trabalho remunerado, o trabalho doméstico é trabalho. 

Desde a primeira mobilização das empregadas domésticas em Portugal em 1921, em Lisboa, ao êxodo de milhares de crianças e jovens raparigas do interior do país para as grandes cidades para trabalharem como criadas de servir, à criação do primeiro Sindicato do Serviço Doméstico, passando pela criação de uma cooperativa e a ocupação de dois prédios onde funcionam serviços de lavandaria, refeitórios e creches comunitárias, ou pela fragilidade da lei do serviço doméstico ainda em vigor aos dias de hoje, Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa procura contribuir para a escrita de uma história do trabalho das mulheres. 

Não sabemos localizar onde e como começou este espectáculo, se no primeiro dia de ensaios, se quando chegamos a casa às onze da noite e nos espera a roupa por tirar da máquina, se no olhar aguçado ao ver estas mulheres nos autocarros, nas nossas casas, ou na nossa família. Acreditamos que o pensamento que impulsiona esta criação já nos habite há muitos anos, e que finalmente se concretiza quando reunimos as condições de trabalho, criação e pesquisa. 

Durante os últimos meses, entrevistámos muitas pessoas: trabalhadoras domésticas, historiadoras, sociólogos e sociólogas, dirigentes sindicais, empregadas de limpeza, juristas. Lemos intensivamente os arquivos do Sindicato do Serviço Doméstico, mergulhámos em livros, filmes, teses, artigos e, sobretudo, pessoas. 

Fomos reescrevendo o espectáculo até à semana da estreia. Apresentamo-lo agora com a certeza de que tudo lhe falta, afinal, não nos chega uma hora e meia para contar tantas vidas, nem cabe no espaço de um teatro o mundo todo ao mesmo tempo. 

Montemor-o-Novo, 25 de outubro de 2021

Sara Barros Leitão

equipa,
coprodutores
e apoios:

Criação e interpretação 
Sara Barros Leitão 

Assistência à criação 
Susana Madeira

Desenho de luz 
Cárin Geada 

Desenho de som 
José Prata 

Figurinos e cenografia 
Nuno Carinhas 

Operação de luz
João Teixeira

Operação de som
Maria Peres e Mariana Guedelha

Coordenação da pesquisa
Mafalda Araújo

Tradução para Inglês
Amarante Abramovici 

Concepção de maquinaria
António Quaresma

Execução de costura
Ponto Sem Nó

Produção
Susana Ferreira 

Design 
Marta Ramos

Residências
23 Milhas
Teatro Municipal Baltazar Dias 
Teatro do Noroeste / Centro Dramático de Viana 
Teatro Viriato 

Residência de coprodução
O Espaço do Tempo 

Coprodutores 
23 Milhas
Fundação Centro Cultural de Belém
A Oficina
Cineteatro Louletano
Teatro Académico Gil Vicente
Teatro do Noroeste / Centro Dramático de Viana
Teatro Municipal Baltazar Dias
Teatro Nacional São João
Teatro Viriato

Projeto financiado por
República Portuguesa e Direção Geral das Artes

São usadas as músicas Libertango, de Astor Piazzolla, versão ao vivo para emissão da Rádio Télévision Suisse a 18.05.1977 e A Life on the Ocean Wave tocada por HM Royal Marines Band 2017 Bandleader Recordings.

Agradecemos a José Soeiro, Inês Brasão, Manuel Abrantes, Nuno Dias, Cristina Lopes, Filipe Caldeira, Arquivos CGTP, Olegário Paz, Conceição Ramos, CIG - Comissão para a Igualdade de Género, Instituto de Sociologia, Vivalda Silva, STAD, Joaquim Portugal, Guida Vieira, Maria José Afonseca, Cristina Trindade, CCOP, Beto,Cristina Trindade, Guida Vieira, Centro Comunitário do Funchal, Elisabete Alves, Alcinda Cáries, Maria Paula Ganança, Graciete Baptista, Narcisa de Goes, Isabel Alves, Maria José Afonseca, Marta Lima, ASSéDIO, Josué Maia, Eneida, Mariana da Silva, Diana Sá, Joana Carvalho, Luís Banquart, Vera Nogueira, Ana Mónica, Nuno Guedes, Guilherme Monteiro, Angelina Ferreira, Cláudia Campos, Maria Manuel Figueiredo, Bernardo Almeida.

Agradecemos ainda a todas as pessoas que nos preparam refeições, limparam as salas de ensaio, casas de banho e espaços de trabalho durante o longo período de preparação deste espectáculo, bem como nas suas futuras apresentações. Trabalho esse que aqui reconhecemos e que é tão importante e determinante para o nosso bem estar e capacidade de produção. 

Agradecemos por último, e com um reconhecimento especial, a Celeste Vieira, mulher que já não pudemos conhecer pessoalmente, mas com a qual convivemos nos últimos meses através do seu precioso trabalho escrito sobre a criação do Sindicato do Serviço Doméstico.


Eleito Melhor Espetáculo da Cidade de Lisboa - Time Out Lisboa 2021

Eleito um dos Melhores Espetáculos do Ano 2021 por Gonçalo Frota / Ípsilon

Nomeado para Melhor Espetáculo de Teatro - Globos de Ouro 2022

Nomeado para Melhor Texto Português Representado - SPA 2023

Acompanha os livros, filmes, áudios, arquivos e outros documentos que usámos na pesquisa para este espectáculo

Vê também Mulheres todos os dias, uma exposição sobre o Sindicato do Serviço Doméstico.